O PRECIPÍCIO


Ele que chegue.

Que eu estou pronto.

Ele que chegue.

Que elimine esta ânsia.

Ele que se mostre.

Para que o meu destino se realize.

O momento

Para eu chegar ao pé do precipício, na borda do mesmo. Inspirar, olhar em volta e ver o entardecer, inspirar novamente, ganhar milagrosamente a capacidade de sentir os grãos de areia minúsculos que se desfazem alguns metros abaixo do local onde me encontro.

Olhar para baixo. Ver um fiozinho de água lá em baixo, muito em baixo, olhar para as encostar forjadas pelo vento e pela erosão e deixar o meu cérebro, formular a pergunta.

Será que é desta?

Suster a respiração. Dar mais um passo.

E atirar-me, e à medida que o vento me desalinha o cabelo, e à medida que a lei da gravidade me aproximar do solo, poder pensar.

Dei tudo.

É tudo um salto no escuro, na vida é sempre assim, por mais certezas que tenhamos será SEMPRE um salto no escuro.

E ou sentirei o impacto benevolente da água que me amortecerá a queda, ou viverei com as mazelas do impacto, não ficcionadas, brutas, destructivas, lancinantes e rápidas que nem um relâmpago, mas que durarão toda a minha existência.

Mas no fim o que interessa é que saltei, não me acobardei, cheguei... ao momento.

Cheguei ao fim da linha, à altura em que tinha que confiar tudo, em que tinha que apostar tudo.

E enquanto caio...

Congeminações cósmicas?

Poder Divino?

Destinos Cruzados?

Ou pura anarquia?

Salvação ou mazelas, das que não saiem, das que não se eliminam, das que não se esquecem?

Prefiro acreditar no choque térmico. No mergulhar, no arrepio na espinha.


Ele que chegue.

Que eu estou pronto!!!